AS VEIAS ABERTAS DO RIO DE JANEIRO
Algumas capitais do mundo contemporâneo foram deslocadas de suas geografias e passaram a integrar uma comunidade internacional, sem língua oficial, nem cultura própria. São locais onde o número de turistas e o de habitantes se aproxima e esses conceitos se confundem. A exemplo disso, temos o Rio de Janeiro que recebeu 1,61 milhão de visitantes estrangeiros no ano passado, contra 1,49 milhão em 2009, um acréscimo de 120 mil pessoas.
Segundo Oskar Metsavaht, um empresário do setor têxtil, o que faz do Rio um polo turístico com média de ocupação hoteleira de 73% durante todo o ano não são suas atrações turísticas ou sua oferta de produtos e serviços, mas a imaterialidade do lifestyle. A descontração do povo, as belas mulheres que já saem de casa com roupa de banho a caminho da praia, aliás, praias públicas, a quantidade de pubs ingleses e cafés parisienses, misturados com shopping centers novaiorquinos e casas noturnas em estilo alemão… Ah, e os fast food de comida japonesa! Sem falar dos nossos hotéis boutique, nossos museus, galerias de arte e as bibliotecas. O mundo todo num só lugar (cinco bairros da zona sul).
REDUZINDO A VELOCIDADE
No entanto, a circulação de pessoas em todo o mundo é facilitada ou reprimida de acordo com interesses político-econômicos como no caso da barreira entre Estados Unidos e México ou socioculturais como os muros construídos em todo o continente europeu. Seguindo essa tendência global, foram erguidas barreiras acústicas ladeando as principais vias expressas que atravessam a cidade para que os moradores das favelas não fossem incomodados pelo ronco dos motores e buzinas. Acompanhe no vídeo abaixo a reação dos moradores.
Nem só de muros são feitas as nossas estradas, há pontes também. E delas pendem paralelepípedos na altura dos para-brisas dos carros. O motorista nessas ocasiões podem parar e esperar pelo assalto ou avançar e estilhaçar o vidro. Quando essas pedras se soltam ou são soltas, os acidentes vão parar nos jornais e só em caso de vítimas fatais é que ganham a primeira página. Afinal, a notícia já não é tão fresca como o asfalto que cobre a pista pedagiada.
AS EMISSÕES DE CARBONO
Essa cidade que sediou o Pan Americano, os Jogos Mundiais Militares e se prepara para a chegada de um maior fluxo de pessoas atraídas pelo festival de música Rock in Rio (o maior do mundo), a Copa das Confederações e a Copa do Mundo além das Olimpíadas está congestionada. O transporte inclusive foi uma das preocupações dos organizadores do evento de música que irão disponibilizar ônibus especiais em locais estratégicos para evitar segundo eles a emissão de monóxido de carbono. Outro motivo é que não haveria local para estacionar um carro por pessoa, como é o costume e seria impossível coibir a ação dos flanelinhas. Para quem não conhece, são pessoas que saem dos bolsões de pobreza e loteiam os espaços públicos para cobrar dos motoristas uma taxa de estacionamento. Quem se recusar a pagar pode ter sua pintura arranhada.
Ainda sobre os veículos particulares automotivos, receberam registro 1.861.198 carros em fevereiro de 2011, contra 1.436.740 no mesmo mês de 2002. São 424 mil automóveis a mais, numa estrutura viária sem melhorias significativas nos transportes coletivos. No período, segundo o IBGE, a população da capital cresceu 7%. Hoje com 6.320.446 habitantes.
MOTORISTAS DE ALUGUEL
Com quase a mesma quantidade de táxis que São Paulo (32 mil motoristas licenciados), e com a metade de seu tamanho, o Rio de Janeiro tem 1 taxista para cada 198 habitantes. Com tantos veículos nas ruas, especialistas dizem que o número deveria ser 30% menor.
Mesmo que a Lei Orgânica do município determine que a capital fluminense deve ter uma frota de 23 mil táxis, ou seja, quase dez mil carros a menos do que existe atualmente, os taxistas continuam tendo suas licenças renovadas e outros ainda circulam sem licença causando protestos entre os legalizados e insegurança entre os clientes.
Decisão da 13ª Vara de Fazenda Pública, de 8 de maio, determina que o município está impedido de conceder novas permissões para taxistas ou auxiliares antes que seja estabelecido o processo administrativo, com critérios rígidos que comprovem a habilidade de dirigir. A Secretaria Municipal de Transportes disse que cumpre a determinação legal.
Porém, manifestantes do movimento “Diárias Nunca Mais” apresentaram documento que comprova a inscrição de novo motorista. A licença foi emitida em 29 de junho — portanto, após a decisão — autorizando Alex Sales Franca a dirigir táxi como auxiliar.
ESPAÇO OCUPADO X ESPAÇO PERCORRIDO
As fotos abaixo, feitas na cidade de Munster na Alemanha, mostra um grupo de 54 pessoas e o espaço que elas ocupariam se cada uma estivesse utilizando um carro. Mostra também o espaço que ocuparia um ônibus com todas estas 54 pessoas dentro, e o espaço ocupado por 54 bicicletas.
O ESTADO DE CONSERVAÇÃO DOS ÔNIBUS
Conforme nos informa o Jornal do Brasil “O relatório de Junho de 2011 sobre a verificação de ônibus municipais feito pela Subsecretaria de Fiscalização (SubF) de Transportes apontou que 31,37% dos coletivos fiscalizados no mês foram reprovados. Dos 204 ônibus avaliados, em diferentes pontos da cidade, 64 foram retirados de circulação por não estarem de acordo com as exigências da Prefeitura para a prestação adequada deste serviço de transporte urbano à população.”
O PREÇO DAS VIAGENS NOS ÔNIBUS
Em Janeiro desse ano, a tarifa para o transporte público intermunicipal passou de R$ 2,35 para R$ 2,50, um aumento de 5,63%. Apesar do valor alto, os cariocas possuem o Bilhete Único, um projeto semelhante ao da capital paulista em que o usuário no espaço de duas horas paga apenas a primeira passagem caso precise pegar outra condução até o seu destino.
O sistema implantado pelo governo do estado, aumenta o número de pessoas nas ruas sem aumentar o número de coletivos, haja visto que estes estão em péssimas condições (de acordo com a pesquisa por amostragem).
O COMBUSTÍVEL PARA MOVER OS ÔNIBUS
Com o objetivo de tornar o ar da cidade mais limpo, cerca de 20 ônibus que operam na Zona Sul da cidade circularão com 30% de biodiesel misturado no combustível. Uma parceria feita entre o O governador Sérgio Cabral, a Petrobrás, a Amyris Brasil Ltda., uma subsidiária da Amyris, Inc. Com incentivo do BNDES garante o fornecimento desse material. Os resultados do teste na frota serão apresentados na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) que acontece no Rio em Junho de 2012.
Em uma cidade como o Rio de Janeiro que tem mais de 8.000 ônibus que consomem aproximadamente 280 milhões de litros de diesel por ano, parece tímida a iniciativa que é bradada como pioneira no país e a mais ousada já que não há fabricas e menos ainda demanda para isso.
OUTRA SOLUÇÃO SERIA A RBS
A Prefeitura do Rio implantou em Fevereiro deste ano o BRS (Bus Rapid System), um corredor expresso que inicialmente foi testado em Copacabana, mas que até o fim do ano chegarão a Ipanema e Leblon. As linhas de ônibus que passam pelo bairro estão divididas em três grupos com 17 pontos de parada distribuídos pela avenida, priorizando o acesso ao metrô e a pontos de interesse. Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, a redução da frota circulante no bairro aumentará a velocidade operacional dos ônibus, que passará dos atuais 13km/h nos horários de pico para 24km/h, ou seja, quase o dobro. A expectativa é que o passageiro possa cruzar o bairro em um tempo até 40% menor.
Esse mesmo local onde os pontos de ônibus estão mais espaçados, concentra a maior concentração de moradores com mais de 60 anos do país. Em 2004 segundo o IBGE, eles são 13,8% da população da região metropolitana. Copacabana é o bairro carioca que mais abriga idosos. Com base nisso é preciso pensar a quem interessa diminuir a quantidade de coletivos circulando no bairro.
A multa para carros comuns que forem flagrados transitando nas faixas seletivas é de R$ 53. O corredor exclusivo para os ônibus funciona de segunda a sexta-feira, de 6h às 21h, e sábado, de 6h até as 14h.
Já na Zona Norte, as ruas Conde de Bonfim e Haddock Lobo, na Tijuca, e Rua Vinte e Quatro de Maio e Avenida Marechal Hermes, no Méier, também serão contempladas. Outro bairro que faz parte do projeto é o Centro, com as avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, e Rua Primeiro de Março. No entanto, o sistema deve ser implantado até 2012.
Foram distribuídos folhetos explicativos apenas nos pontos de ônibus. A população de outros bairros acaba ficando confusa na hora de voltar pra casa. Ao tentar se localizar pela publicidade afixada nos terminais de embarque, percebe-se que ela é pouco intuitiva e o material utilizado não resiste ao vandalismo.
BICICLETA DÁ SAMBA
Bicicletas são veículos para transporte individual que não geram poluentes durante a sua utilização. Há quem diga que o alumínio usado na fabricação desse tipo de transporte é extraído e processado de maneira pouco sustentável e que ele contamina o ar, a terra e o lençol freático. Contudo os ecologistas preferem a bicicleta ao carro e tem boas razões para isso. Considerando o barulho, o custo de manutenção, a quantidade de combustível consumido, o número de vagas para estacionar… e principalmente os materiais alternativos como fibra de carbono e bambu.
A prefeitura do Rio se inspirou no projeto francês e criou o SAMBA, Solução Alternativa para a Mobilidade por Bicicletas de Aluguel. Veja no vídeo abaixo, como funciona:
O sistema de Bicicletas Públicas foi lançado em Janeiro de 2009, após licitação realizada pela prefeitura, com previsão de implantação de até 50 estações e 500 a 1000 bicicletas, nos bairros de: Copacabana, Leblon, Ipanema, Lagoa, Botafogo, Flamengo, Centro e Tijuca. Até o momento foram implantadas 19 estações nos bairros de Copacabana, Leblon, Ipanema e Lagoa.
Na capital francesa, foram instaladas mais de 1,4 mil estações com cerca de 20 mil bicicletas. Paris possui 400km de ciclovias contra 150km no Rio, mesmo assim, é a segunda maior malha cicloviária da América Latina . Só perde para a cidade de Bogotá, na Colômbia (com 240km) .
OS DEVERES E DIREITOS DOS CICLISTAS
O Art. 59 do novo código de trânsito estabelece que: nas vias urbanas e rurais de pista dupla, a circulação de deverá ocorrer, quando não houver ciclovia, ciclofaixa ou acostamento, ou quando não for possível a utilização destes, nos bordos das pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentado pela via, com preferência sobre os veículos automotores.
Em seguida, no artigo 60, “Desde que autorizado e devidamente sinalizado pelo órgão ou entidade com circunscrição sobre a via, será permitida a circulação de bicicletas em passeios”.
O próprio código de trânsito afirma que a construção de novas ciclofaixas tem pouco valor. Necessária e urgente é a criação de uma campanha campanha permanente que incentive o uso da bicicleta assim como existe aquela que alerta para os acidentes automobilísticos e principalmente um alerta para o respeito aos ciclistas que muito sofrem com a imprudência dos motoristas.
A AMPLIAÇÃO DA CICLOFAIXA
Pelos dados do Instituto Pereira Passos, 2,7% da população carioca usam a bicicleta como meio de transporte, sendo que 18% desse total residem em Santa Cruz, na Zona Oeste da cidade. Lá 75% dos moradores pedalam para se locomover. Visando a melhoria das condições de tráfego dos ciclistas, a Prefeitura anunciou ainda em 2010 que construiria a segunda maior ciclofaixa da cidade. Após a inauguração do traçado, uma reportagem do jornal O Globo chama a atenção para algumas falhas do projeto.
“A Secretaria municipal de Meio Ambiente (Smac) disse na segunda-feira que a prefeitura deu um prazo até o dia 12 de junho de 2011 para que a construtora Andrade Gutierrez corrija todas as falhas identificadas na ciclovia da Zona Oeste . Apesar de a ciclovia ter sido inaugurada no domingo, dia 22, na semana passada o engenheiro do Crea Abílio Borges encontrou rachaduras, obstáculos (orelhões e postes) e pilares de passarelas com problemas estruturais, entre outras falhas. A Andrade Gutierrez confirmou que as correções serão feitas até o dia 12 de junho, sem custos adicionais para a prefeitura, que pagou quase R$ 20 milhões pela obra de implantação de 22 quilômetros de ciclovia e serviços de urbanização. “ – Jornal O Globo 31/05/2011
Apesar dos números, dos protestos e da clara falta de atenção aos interesses da população, a prefeitura e o governo do estado continuam fazendo obras que visam melhorar o caótico trânsito da cidade. As intenções são as melhores, as justificativas são pouco convincentes e os problemas se acumulam.
Em uma próxima oportunidade, voltarei a este assunto, de forma menos fragmentada e abordarei outros aspectos da circulação de pessoas como as motos, as vãns, os trêns, o metrô e as barcas. Todas com seus respetivos defeitos apontados e soluções incompletas visando interesses que não são os nossos.