O prefeito de Manaus, senhor Amazonino Mendes, ao declarar hoje (11) que as grandes conquistas de sua gestão até agora foram a Saúde através das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e o transporte público na cidade, em apresentação de videodocumentário, onde mostrou uma série de obras realizadas durante janeiro de 2009 e junho de 2011, período de sua administração na cidade, demonstrou ser um tipo de político raro. Não por se apresentar para a população como um político novo pelos seus feitos democráticos nuca antes vistos em prol do bem comum.
Amazonino realizou em sua fala a contradição maior que pode haver na produção de um discurso em relação à verdade. O senhor prefeito fez com que a verdade surgisse de modo metafísico na realidade por meio de seu discurso, pois suas palavras não foram engendradas a partir de um exterior (real) que, através de suas composições, faz com que a verdade apareça como efeito material do jogo de correlação de forças diversas. Em poucas palavras, seu discurso se fundamentou em uma quimera, uma vez que ele não tornou o real legível em suas palavras, pois estas não partiram do que foi um possível, ou seja, do que realmente aconteceu ou potencialmente pode vim acontecer.
Neste sentido, a raridade política de Amazonino repousa tranqüila na sua inexistência como homem político, pelo menos em três maneiras. Entre tantas formas e maneiras diversas de compreender o que é política, podemos nos fazer uso de uma tipologia de onde podemos destacar três, de certo modo, arbitrariamente. A primeira é a que chamamos de política profissional, ou seja, aquela que é reduzida aos governantes e parlamentares. A segunda a que podemos conhecer como uma espécie de sociedade política, isto é, o modo pelo qual a população busca garantir seus direitos através de reivindicações que asseiam um estado de vida em oposição a um estado de sobrevivência, seja por meio de instituições previstas pelo Estado ou por outras que, de certo modo e não definitivamente, independem do Estado. A terceira, diz respeito a produção da própria existência pelos indivíduos que desejam construir a si mesmos de modo livre.
Pois bem, em outras palavras, a política atravessa a existência de todos, indistintamente, através da representação, de resistências burocráticas completamente estatais ou não e de modo ético-ontológico. Os dois primeiros tipos, ambos assegurados pela ordem jurídica, para muitos, tornou-se lugar comum, colocá-los como efeitos de uma “autonomia do Estado” ou de um “Estado Autônomo”, o que são coisas bem diferentes entre si. Tal discurso procura desenvolver a tese de que o Estado seria uma instituição superior a todas as outras, central, o conjunto dos poderes e de seus exercícios, o responsável pela produção e sua circulação, e quem conseguir tomar sua posse será o responsável por tal poder, portanto o Estado, desse modo, ganha para si o caráter supervalorizado de ser atacado e ser ocupado.
Como acreditamos, junto com o companheiro Foucault, que o Estado não possui uma essência, não possui entranhas, não tem uma natureza, mas é apenas o efeito, o resultado de uma série de movimentos, procedimentos, transações, trocas, uma relação entre diversos fatores em lugares e posições diferentes, também acreditamos ser verdade o fato de que em nada adianta ocupar o Estado para fazer com que a política como ontologia consiga enfim suplantar as duas outras, a representativa e a institucional. Logo, não se trata aqui de criticar Amazonino no intuito de atacar ou ocupar o poder do Estado, mas antes de compreender que o discurso do prefeito faz com que percebemos que para ele não há uma cidade, não há um povo, muito menos indivíduos com suas singularidades. Amazonino, portanto, não se encaixa em nenhum dos tipos de política apresentados acima.
Então vejamos:
Amazonino fala da saúde e do transporte público como pontos positivos de seu governo. Estes dois serviços públicos são exatamente os maiores problemas enfrentados pela população de Manaus. E não se trata de tomar a voz do povo como nossa, mas basta sair pelas ruas manauaras para termos todos os sentidos invadidos pelas evidências de uma cidade que não possui os serviços básicos para garantir uma existência digna. Assim, o prefeito de Manaus não é um real governante, pois não fez com que os representados tivessem em seu representante, seus anseios resolvidos quando os votos depositados com essa esperança.
Amazonino também não pode se encaixar na sociedade política, pois inventou para si uma cidade fantástica onde os problemas praticamente não existem ou são resolvidos de um modo mágico onde somente ele consegue perceber os benefícios. Como a população pode reivindicar melhoras em uma cidade mágica onde tudo é perfeito; sendo a população imperfeita como resistir a uma gestão que beira a perfeição. Amazonino, metafisicamente impede a resistência da população, bem como pode achar absurdas as suas reivindicações, pois a cidade a cada dia só melhora, pelo menos para ele.
Quanto ao terceiro tipo de política, ético-ontológico, Amazonino parece não perceber que a produção da cidade não pode surgir somente de suas palavras, mas, completamente ao contrário, da fala e produção real de todos. Amazonino parece não ver que o que movimenta, faz circular, faz existir a cidade é o desejo que define o porquê das pessoas agirem, viverem, procurarem a vida em vez da sobrevivência. Amazonino, parece não perceber o quanto a cidade e seus moradores se entristece quando suas produções reais, quando o próprio real é subsumido por quimeras.
Contudo, o prefeito deixou claro não está fazendo nenhum tipo de campanha. Inclusive irá distribuir o videodocumentário para a população, pois assim o próprio trabalhador, a dona de casa, seu eleitor, digo, a população enfim, poderá ver e ouvir que o que ele diz é uma verdade com fundamentos reais. Amazonino fez questão de esclarecer que não se tratava de um ato de politicagem, pois “Vocês não irão ver aqui nenhuma referência pessoal ao prefeito”. Outros vídeos serão feitos “para que o cidadão receba sem filtro as informações, e possa medir e avaliar a (sua) administração”.
Enquanto isso, a população de modo afastado do fantástico e bem próximo da realidade já vem a muito fazendo sua avaliação toda vez que vai ao trabalho, que procura lugares para o lazer, toda vez que adoece, que procura uma cidade para viver dignamente. Ou será que o prefeito realmente acredita que são necessários vídeos com seus discursos para que a população enfim possa perceber o que está acontecendo em Manaus?