ENQUANTO A GLOBO OBNUBILA UM BEIJO HOLOGRÁFICO, MANIFESTANTES VÃO PRO BEIJAÇO DOS DIREITOS HUMANOS

A boca desterritorializa-se e sai do esquema tradicional: deixa de ser máquina-orifício para se transformar em canal de fluxos afetivos, afecções cósmicas. Cometas percorrem o palato, que vira céu. Não há mais dois corpos, não há corpo, há um, matéria transformada, máquina desejante, transbordante de outros desejos. Nada de consumir e ser consumido, mas apenas deixar passar os fluxos: de saliva, de tremores, de cheiros, de sabores, de sensações, que revolucionam o corpo num fluxo que percorre a simbiose maquínica beijante. O êxtase erótico só pode acontecer quando o beijo é dado no real; quando há compromisso. Beijar começa antes, com a condição do conhecer a si, e nesse conhecer, convidar o outro a transbordar o seu Si como criação no mundo. Liberdade para, beijando o outro, beijar o mundo.

Nada que passe pela simulação globística para capturação do olhar esvaziado do vouyeurismo sem presença. Sem colocar a condição da homoeroticidade num plano político (coletivo, de produção de dizeres, saberes e modos de existir), não tem beijo. Coisa que parte do movimento LGBT não entendeu, ao apoiar a exploração do decadente Big Brother (perdão, Orwell!) da força do homoerotismo. Nada de revolução; adaptação aos ditames do mercado, à semiótica da mais-valia.

Por sacar muito bem as armadilhas da midiocridade global é que os gays, lésbicas, bis, trans e aliados que não simulam o gozo pelo brilho da gélida telinha plim-plim, mas vão pra rua compor desejos numa polivocidade maquínica, ocupam-se de defender o PNDH-3.

Daí que no próximo dia 07 de fevereiro, vai rolar um Kiss In, o famoso beijaço, em São Paulo, na Avenida Paulista com a Augusta, às 17h. O objetivo é defender medidas contempladas no PNDH-3, dentre elas a união civil entre pessoas do mesmo sexo, a criminalização da homofobia, a legalização do aborto e a adoção homoparental. Nada que seja possível fazer passar no holográfico beijo global.

A iniciativa foi organizada via twitter e outras redes sociais, e pretende agir contra a onda reativa da igreja e outros setores que “fazem dos seus interesses privados, interesses públicos”. Gente que o psicanalista Wilhelm reich chamaria de presos à couraça caracteriológica, ressentidos, imobilizados. A quem sobra a versão asséptica do ‘homossexualismo’ big brotherniano.

Se você se contenta com o espectral beijo telemático, azar o seu. Agora, se curte deixar passar fluxos esquizo, transformar o corpo em canal de fluxos estético-politizantes, criar novas conexões e mostrar que o carinho, numa sociedade brutalizada, ofende mais que um tapa, essa é a balada!

6 respostas em “ENQUANTO A GLOBO OBNUBILA UM BEIJO HOLOGRÁFICO, MANIFESTANTES VÃO PRO BEIJAÇO DOS DIREITOS HUMANOS

  1. A Globo adora fazer propaganda em cima do famoso beijo gay. Fizeram o maior estardalhaçao em uma novela e acabou que o tal beijos nem foi ao ar (apesar da cena ter sido gravada). Só para lembrar, 1º beijo gay da TV é o cacete (com o perdão da expressão). Há um filme brasileiro antigo que tem uma cena de dois homens se beijando que até apareceu no Programa do Jô. Não me lembro o nome do filme, mas um dos 2 atores em questão era o Tonico Pereira. Ridícula a atitude da Globo. Finge que apoia os gays, mas apenas os trata como um mercado a ser explorado!

    • Não só a globo, mas a mídia em geral, ocupa-se daquilo que ela chama de nichos de consumo. Parte da população LGBT confunde movimento social com demanda sócioeconômica. Acreditam que lutam apenas pela consolidação de direitos civis, quando a luta é pelo direito de todos. E o buraco é bem mais em cima…

      Valeu!

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