A HOMOSSEXUALIDADE DE CAIO E A INTOLERÂNCIA*

Provocados, aceitamos produzir um texto que pudesse se contrapor a alguns ataques que consideramos preconceituosos, dirigidos ao criador de personagens infantis Maurício de Sousa, que acaba de lançar seu mais novo personagem, o Caio, na figura de um jovem homossexual.

É fato por todos sabido que diversos seguimentos lançaram inconsistentes ataques ao criador do personagem, ao argumento de que pretendem proteger seus filhos, quando na verdade deixam escapar uma enriquecedora oportunidade de passar a eles, a partir de CAIO, valores éticos mais consentâneos e apropriados a uma sociedade mais sadia, preparando-os para o convívio com as diferenças com as quais terão de conviver ao longo de suas vidas.

Inicialmente, temos que a intolerância, a falta de informação e o preconceito contido nos “ataques”, referem a homossexualidade e o personagem criado como “absurdos da modernidade”.

Ora, desde que a humanidade existe, há milhões de anos, e até onde sabemos, a condição da existência de uma sexualidade diferenciada está indiscutivelmente posta, e, por preconceito, não pode ser atribuída “à modernidade”, por simples inconsistência lógica.

Mas os ataques vão mais além e remetem erroneamente aos estigmas por que passam algumas crianças nas escolas, ao serem apelidadas de “cascão”, “Magali” ou “cebolinha”, quando não são dadas ao hábito de tomar banho, quando comem muito ou porque sejam possuidoras de distúrbios de linguagem, associando esses estigmas, não à forma equivocada como educam seus filhos, mas a essas “más” influências do social expressas nas tiras dos quadrinhos ora sob análise.

Essa forma, a da não aceitação das diferenças pela desinformação, é que possibilita o surgimento de uma cultura de preconceito e segregação, gênese de uma eugenia que possibilitou regimes como o alemão na segunda guerra mundial e o consequente extermínio de milhões de judeus.

A grandeza da intensidade, se nos é permitida a hipérbole, com que se dá a força da mediação dos pais na formação dos indivíduos, já foi, desde há muito, objeto de estudo por parte de teóricos de reconhecida reputação científica.

Entre tantas, vamos nos referir aqui a uma dessas concepções teóricas e seu criador. Trata-se do professor e pesquisador Vygotsky, que viveu na Rússia, em plena efervescência da Revolução Comunista. Vygotsky elaborou uma teoria que tem por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico e o papel da linguagem e da aprendizagem neste desenvolvimento. Para ele, as origens da vida consciente e do pensamento abstrato deveriam ser procuradas na interação do organismo com as condições de vida social e nas formas histórico-sociais de vida da espécie humana e não no mundo espiritual e sensorial dos homens. O que ele quer dizer é que as pessoas são resultado do reflexo do mundo exterior no mundo interior dos indivíduos a partir da interação destes com a realidade.

Assim, vamos observar que essa concepção se contrapõe a um referencial Construtivista então existente onde o conhecimento é entendido como ação de um sujeito ativo sobre a realidade. Para Vygotsky a construção do conhecimento se dá a partir da interação mediada pelas relações na troca com outros sujeitos e consigo próprio, ocasião em que vão se internalizando os conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a constituição de conhecimentos e da própria consciência.

E mais: Destaca que no durante o processo em que se dá essas relações, a linguagem age decisivamente na organização do raciocínio, sendo que, a partir do momento em que ela assume a Função Planejadora, age decisivamente sobre a organização do raciocínio, reestruturando diversas funções psicológicas, como a memória, a atenção, e a formação do conceito.

Com sua teoria, Vygotsky tinha por objeto a relação pensamento/linguagem e suas implicações no processo de desenvolvimento intelectual, o qual, a partir da mediação, produz uma síntese, decorrente da posição ativa do sujeito ativo que absorve e assimila o conteúdo cultural.

Ora, a simples aplicação desses pressupostos ao desenvolvimento de nossas crianças, remete ao reconhecimento das responsabilidades na formação dos (pré)conceitos a que chegará a síntese de um indivíduo em formação, ou seja, seus pais, educadores por excelência dos indivíduos seus filhos, sendo os maiores responsáveis pela conduta de intolerância de seus filhos na construção de uma sociedade hostil e auto-destrutiva, onde podem ser encontramos atributos como a homofobia, por exemplo.

Dizendo de outro modo, essa responsabilidade compete aos pais, depois à escola, e depois ao social do entorno sócio-histórico cultural, a construção e a reprodução de conceitos de tolerância às diferenças (que vistas com os olhos da tolerância, sequer diferença há), assim como da convivência pacífica entre as pessoas e os povos.

Outra questão posta à nossa apreciação é a de questionar como se dá o falso (re?)conhecimento da anormalidade no “homossexualismo”. Pensamos que considerar essa condição como anormal, é perder de vista a própria condição humana, assim como as condições históricas em que deu a aquisição desses (pré)conceitos sociais e as relações de moral e poder intrínsecas à própria questão da segregação de pessoas e povos.

É até aceitável que os pais temam serem seus filhos vitimados por aliciadores. Todavia, é mais certo que se tornem vítimas a partir da ignorância que do conhecimento, uma vez que, este sim, lhes confere os instrumentos internos apropriados para o estabelecimento de relações mais saudáveis e verdadeiras.

Por essa razão é que nos é difícil concordar que uma revista infantil possa servir de instrumento nas mãos de aliciadores, sendo mais plausível uma concepção em que a ignorância e a desinformação seja, aí sim, a melhor ferramenta a vitimar uma criança.

Nesse sentido é que podemos considerar, em síntese, serem os pais das nossas crianças, como foram nossos pais por nós, os mais implicados mediadores no processo de internalização dos valores que podem construir um mundo melhor, socialmente mais saudável, em que as pessoas não venham a se indignar com essas (inexistentes) diferenças sexuais, mas que possam dirigir sua indignação à má aplicação dos recursos públicos e não compartilhar de seus desvios, se indignar com a falsa moral, com pessoas que acomodam em seu seio, políticos ou empresários corruptos, pedófilos, e pessoas que compartilham de tais categorias.

Se é certo que é de criança que se faz o adulto, que é em criança que se aprende o certo e o errado, como dizem os contestadores de Caio, então por que ensinar às crianças a intolerância, o preconceito, a discriminação, a segregação? Nesse caso, por simples exercício de lógica, se lhes ensinarmos esses (pré)conceitos, essas crianças, quando chegarem à vida adulta, serão protagonistas de um mundo onde elas próprias terão dificuldades para viver, expressarem suas aptidões e estabelecerem relações mais saudáveis, exatamente por estarem reproduzindo um modelo de mundo equivocado que recebemos de nossos pais e que lhes conferimos por herança maldita, que é a da pura e inaceitável intolerância.

Quanto ao criacionismo, dispensa qualquer comentário o campo livre da religiosidade, por respeito ao diferencial nele contido, suportado apenas pelo exercício da livre crença e da fé religiosa, face a sua concepção própria da origem do universo, das coisas e das pessoas.

Finalmente, para ilustrar o papel da mediação consagrada pela teoria histórico social antes singelamente exposta, vamos imaginar que em um veículo de luxo, viaja uma criança e seu pai. Enquanto aguardam o sinal abrir, essa criança avista outras crianças na rua, maltrapilhas, mendigando, e pergunta: “Pai, por essas crianças são assim, sujas? Elas não tem casa? Onde estão seus pais? Por que não tomam banho? Por que estão pedindo? O homem “bem posto”, do alto do seu forte (pré)conceito sobre o mundo e as pessoas, mediador entre o social histórico e aquela criança em formação, seu filho, responde: “Não olhe não, meu filho, são apenas vagabundos, bandidos e preguiçosos… eles não querem trabalhar e podem até nos roubar.”

Não deixou passar o mediador a oportunidade de produzir mais uma mente desinformada, embrião do preconceito e da arrogância, destituída de compreensão e tolerância para com os excluídos, que ele próprio, pai mediador, ajudou a excluir, internalizando em seu filho a aquisição de valores de individualismo, competitividade com alto grau de destrutividade, o “Darwinismo Social”, que premia os mais “capacitados”.

Esses pais, como mediadores partícipes na construção de subjetividades em seus próprios filhos, reproduzem neles, seus modelos de subjetividade, de preconceito e de intolerância, na construção de um mundo significativamente pior. Nossos votos que possam mudar. Melhor do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo…

* O autor é psicólogo e estudioso das manifestações sociais de violência.

8 respostas em “A HOMOSSEXUALIDADE DE CAIO E A INTOLERÂNCIA*

  1. nosso pais ,muitas vezes e feito de demagogia ,hipocresia.Naõ se pode aborda determinados assuntos, que um bando de falsos moralistas começam criticando e coisa e tal.como se vivessem num outro mumdo e não olhassem a realidade que o cerca.dessa forma estamos todos, essa e as proximas geração fadados ao primitivismo,e consequentemente ao fracaço.mil anos luz,longe de uma sociedade justa e igualitária que tanto queremos.

  2. As pessoas só querem ,respeito ,dignidade para viverem,sem serem molestadas e agredidas em seu mais pleno direito, que a vida.aos criticos cabem assumi o onûs do que vier por ai.toda e qualquer informação e bem vinda,a ignorância o preconceito e a descriminaçâo e irmã gêmea da falta de informação.

  3. Cada um com suas convicções, mas sinceramente também defendo que nem todo mundo é obrigado a ser homossexual ou simpatizante. É livre a manifestação do pensamento. Agora, é só questão de não querer ver ou parar para analisar as coisas, imaginem dois machos com penis e testiculos em momentos intimos, (entre duas mulheres ainda é menos … desculpe me faltaram as palavras) chega a ser bizarro…Eu particularmente acho belo, atraente e até mágico o sexo entre homem e mulher é natural, essa idéia de homossexualidade a mídia está tentando persudir as mentes de que tudo isso é normal.

  4. É, Flavinha.

    Tens todo o direito de defender suas convicções, e concordamos contigo. Só tome cuidado para assegurar que suas convicções sáo realmente suas, ou produto da ausência da capacidade de suspeitar dos clichês da moral de rebanho.
    Quanto ao seu asco ao contato físico entre duas picas ou bocetas se roçando, é desnecessário. Se você não é homossexual, nem precisa se preocupar com isso, não é? Ou não?

    Volte sempre!

  5. O probelma com que é e com quel simpatiza com o homosexualismo e´acreditar que todo mundo tem que pensar que nem ele, esqucem que tambem eu tenho meu direito de pensar e acreditar no que quizer , pois assimme garante a constituição, tenho um parente muito próximo que vi nascer crescer e que hoje vive a confusão de sua vida que é não zsaber o que é mesmo; homem macho ou homem afeminado e quero lhe dizer que todos nós aoramod muito ele mas ninguem concorda com sua possível opção , não o ofedemos não o ferimos conversamos abertamente e ninguem deseja ê-lo numa situação de humilha~ção à outro homem se submetendo agredindo parte de seu aparelho digestivo (olhe que até então não apareceu orgão sexual, pois meus maigos ânus nunca foi orgão sexual ( foi feito para evacuar residuos de alimentos o quais nosso corpo precisa expelir) mas não, esses caras juram que tudo não passa de uma outra forma de amor “hiiii que nojento”

    • Caríssimo Marcio,

      Os homossexuais não se interessam pelo que você pensa ou faz. Não importa, para eles, se você os aceita ou deixa de aceitar. Esse problema é seu. O que se reivindica e combate é a estupidez que tenta aniquilar um modo de existir autêntico e real, em nome de uma fantasia moral e antinatural. À propósito: ao redor do seu ânus existem milhares de terminações nervosas que causam prazer quando estimuladas. Até a Sandy sacou isso.

      Abraços!

  6. somos todos iguais nao existe essa de o homosexual ser diferente a vida e deles e a opsao por vivela tambem entao vamos parar de ser preconseituoso e ver com naturalidade so quem pode mudar uma pessoa e ela mesmo o resto e conversa pra boi dormir

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